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O Ciclo Vigília-Sono e outros Ritmos Biológicos - A Consciência Regulada

A repetição diária do ato de dormir é o mais conhecido dos ritmos da vida. Todos os vertebrados o apresentam. No entanto, existem muitos outros ritmos: de atividade motora, de desempenho cognitivo, de temperatura corporal, secreção hormonal, atividades reprodutoras e assim por diante. São atividades e funções que se repetem periodicamente, em geral sincronizadas com ciclos da natureza. A sincronia entre o organismo e a natureza, podemos bem imaginar, apresenta grande valor adaptativo para todos.


Mas a questão maior é a seguinte: quem gera os ritmos? E quem os sincroniza com os ciclos naturais? A resposta: os organismos têm osciladores naturais, conjuntos de células cujas funções variam em ciclos, espontaneamente. Nos animais superiores, muitos desses osciladores ficam no sistema nervoso, constituídos por neurônios especiais que disparam sinais de modo periódico. Esses “relógios biológicos” recebem informações do ambiente, e desse modo a sua oscilação espontânea fica acoplada aos ciclos ambientais. No hipotálamo está o relógio dos ritmos do dia a dia (circadianos); no epitálamo fica o relógio dos ritmos sazonais (circanuais).


O mais conhecido dos ritmos é o ciclo vigília-sono, que nada mais é do que uma oscilação do nível geral de atividade do sistema nervoso: maior atividade durante a vigília, menor durante o sono (o que não quer dizer que durante o sono não haja atividade neural - há muita!). Regulam este ciclo os sistemas moduladores difusos, conjuntos de neurônios - cada um deles com neuromediadores diferentes - que emitem extensos e longos axônios que estabelecem sinapses em grandes territórios do córtex cerebral e regiões subcorticais, do tálamo à medula espinhal.


Por ação dos sistemas moduladores difusos, ao final do dia adormecemos: nossa consciência apaga-se e mergulhamos no inconsciente, os músculos repousam, as funções orgânicas ficam mais lentas e pausadas. O eletroencefalograma - EEG - indica que atravessamos gradualmente os estágios do sono de ondas lentas. Subitamente, o EEG faz crer que vamos acordar: engano, entramos em um segundo estado, o sono paradoxal, no qual nos movemos pouco mas sonhamos muito. O sono de ondas lentas é regulado por sistemas neuronais situados no tronco encefálico: alguns deles controlam a passagem de informação para o córtex, através do tálamo. O sono paradoxal tem outro mecanismo, que envolve neurônios diferentes do tronco encefálico. Ao final de tudo, o indivíduo desperta e a vigília é restabelecida.


Ninguém sabe a utilidade do sono. As teorias existentes ainda não foram confirmadas cientificamente. Mas uma coisa é certa: o sono é necessário, não podemos viver sem ele. Não podemos tê-lo de menos (insônias) nem demais (hipersônias). Estamos destinados a passar um terço de nossas vidas dormindo.


FONTE:

Livro: LENT, Roberto. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos fundamentais de neurociência. 2ª Edição. São Paulo: Editora Atheneu, 2010.

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