Epilepsia - O que é
A epilepsia é um distúrbio químico e elétrico do sistema nervoso central que altera o funcionamento de partes ou do cérebro todo, provocando repetidas crises, caracterizadas por convulsões que podem se manifestar na forma de alterações motoras, sensoriais e comportamentais, muitas vezes com perda de consciência.
Essas manifestações variam conforme a região afetada e precisam ser evitadas, pois podem provocar lesões no cérebro e deixar sequelas. Estima-se que uma em cada cem pessoas tem crises epilépticas, provocadas por diferentes causas, inclusive genéticas.
A epilepsia não pode ser confundida com simples convulsões. Para caracterizar a epilepsia, é preciso haver crises recorrentes. Um episódio único não é indicativo da doença. Uma vez comprovada a epilepsia, o tratamento é feito com medicamentos anticonvulsivantes e, em casos selecionados nos quais as medicações não funcionam adequadamente, cirurgia. Em alguns pacientes, as crises desaparecem ao longo do tempo quando tratadas, em outros, é necessário tomar medicamentos a vida toda.
Causas
A doença pode ter diversas causas, que variam de acordo com o tipo de epilepsia e com a idade do paciente. Em crianças, por exemplo, a anóxia neonatal (falta de oxigênio no cérebro durante o parto) e os erros inatos do metabolismo (alterações metabólicas que existem desde o nascimento) são causas frequentes de epilepsia.
Em idosos, por outro lado, as doenças cerebrovasculares (acidente vascular cerebral, ou AVC), bem como os tumores cerebrais, estão entre as causas mais frequentes.
Sinais e Sintomas
Existem vários tipos de crises epilépticas, cada uma com características diferentes. Um dos tipos mais comuns é a crise tônico-clônica, chamada habitualmente de “convulsão”. Esse tipo de crise é facilmente reconhecível, pois o paciente apresenta abalos musculares generalizados, sialorreia (salivação excessiva) e, muitas vezes, morde a língua e perde urina e fezes.
Outras crises, entretanto, podem não ser reconhecidas por pacientes, seus familiares e até mesmo por médicos, pois apresentam manifestações sutis, como alteração discreta de comportamento, olhar parado e movimentos automáticos.
Em crianças, por exemplo, é comum a ocorrência de crises de ausência, caracterizadas por uma breve parada da atividade que a criança estava fazendo, às vezes associadas a piscamentos ou movimentos automáticos das mãos. As crises de ausência podem ocorrer muitas vezes ao dia. Em alguns casos, não são reconhecidas prontamente, e só quando a criança começa a apresentar prejuízo do desempenho escolar – normalmente apontado pelo professor na escola – essa possibilidade é considerada.
Descrição das crises epilépticas
Termos para descrever e classificar as crises convulsivas foram desenvolvidos pela Liga Internacional Contra a Epilepsia - ILAE. Isso foi feito para tornar os nomes das crises mais precisos, menos confusos e mais descritivos.
Os termos consideram 3 pontos importantes ao descrever as crises:
1) A origem ou início de uma crise: onde as convulsões começam no cérebro diz muito sobre o que pode ocorrer durante uma convulsão, quais outras condições ou sintomas podem ser observados, como podem afetar alguém e, mais importante, qual tratamento pode ser melhor para esse tipo de convulsão. Quando não sabemos se uma convulsão é focal ou generalizada no início, o tratamento errado pode ser utilizado. Ou uma pessoa pode não receber um tratamento que tenha a melhor chance de ajudar.
2) O nível de consciência de uma pessoa durante uma crise: se uma pessoa está consciente ou não diz muito sobre o tipo de convulsão. Também é muito importante saber para a segurança de uma pessoa.
3) Se há movimentos durante uma crise: as convulsões também podem ser descritas pela ocorrência de sintomas motores. Quando nenhum sintoma motor acontece, pode ser chamada de convulsão não motora. Este nível de descrição não precisa ser usado o tempo todo, especialmente ao descrever ou falar sobre convulsões em geral. No entanto, algumas vezes, pode-se achar os termos motores úteis.
Classificação das crises epilépticas
Existem 3 grupos principais:
De início generalizado
Essas convulsões afetam ambos os lados do cérebro ou grupos de células em ambos os lados do cérebro ao mesmo tempo.
De início focal
As convulsões focais podem começar em uma área ou grupo de células em um lado do cérebro.
Crise focal consciente: quando uma pessoa está acordada e consciente durante uma crise.
Crise focal com consciência prejudicada: quando uma pessoa está confusa ou sua consciência é afetada de alguma forma durante uma convulsão focal.
Uma crise focal também pode se espalhar para ambos os lados do cérebro.
De início desconhecido
Quando a origem de uma crise não é conhecida. Uma convulsão também pode ser chamada de início desconhecido se não for testemunhada ou vista por ninguém, por exemplo, quando as convulsões acontecem à noite ou em uma pessoa que mora sozinha.
À medida que mais informações são descobertas, uma crise de início desconhecido pode, mais tarde, ser diagnosticada como generalizada ou focal.
Descrição dos diferentes sintomas durante uma crise convulsiva
Muitos sintomas diferentes acontecem durante uma crise. Esta nova classificação os separa simplesmente em grupos que envolvem movimento.
Crise generalizada motora
Podem incluir movimentos bruscos rítmicos sustentados (clônicos), músculos ficando fracos ou flácidos (atônicos), músculos ficando tensos ou rígidos (tônicos), breves espasmos musculares (mioclonia) ou espasmos epilépticos (o corpo flexiona e estende repetidamente).
Crise generalizada não motora
São geralmente chamadas de crises de ausência. Elas podem ser crises de ausência típicas ou atípicas (períodos de olhar fixo). As crises de ausência também podem ter breves espasmos (mioclonia) que podem afetar uma parte específica do corpo ou apenas as pálpebras (mioclonia palpebral).
Crise focal motora
Também podem incluir espasmos (clônicos), músculos ficando flácidos ou fracos (atônicos), músculos tensos ou rígidos (tônicos), breves espasmos musculares (mioclonia) ou espasmos epilépticos. Também pode haver automatismos ou movimentos automáticos repetidos, como bater palmas ou esfregar as mãos, estalar os lábios ou mastigar ou correr.
Crise focal não motora
Exemplos de sintomas que não afetam o movimento, entretanto podem haver alterações na sensação, emoção, pensamento ou cognição, funções autonômicas (como sensações gastrointestinais, ondas de calor ou frio, arrepios, coração acelerado, etc.) ou falta de movimento (paragem de atividade).
Crise de início desconhecido motora
É descrita como tônico-clônica ou espasmo epiléptico.
Crise de início desconhecido não motora
Geralmente, inclui uma parada comportamental, uma paragem de atividade. Isso significa que o movimento para - a pessoa pode apenas olhar fixamente e não fazer nenhum outro movimento.
Como saber os diferentes tipos de crise epiléptica
Não é incomum que uma pessoa não saiba o tipo de crise que tem. Frequentemente, as convulsões são diagnosticadas com base em descrições do que um observador viu. Essas descrições podem não ser totalmente completas, ou não se pode dizer onde uma crise começa a partir dessas informações.
Quando as crises são difíceis de serem diagnosticadas ou quando os medicamentos para epilepsia não estão funcionando para parar as crises, converse com seu médico ou profissional de saúde responsável.
Consultar um especialista em epilepsia ou fazer uma avaliação em um centro de epilepsia pode ajudar a descobrir se você está tendo convulsões. Nem todos os eventos são devidos à epilepsia.
Um centro de epilepsia pode ajudar a explorar outras opções de tratamento, como cirurgia, dispositivos, dieta cetogênica, medicamentos novos ou complementares para convulsões ou um ensaio clínico.
Diagnóstico
O diagnóstico da epilepsia exige que o médico neurologista, durante a consulta, converse detalhadamente com o paciente para obter o maior volume possível de informações sobre seu histórico e o padrão de suas crises epiléticas. Como em muitos casos as crises envolvem a perda de consciência, é importante contar também com as descrições de familiares ou pessoas que comumente as presenciem.
O médico também solicitará a realização de exames de imagem (TC - Tomografia de Crânio e RM - Ressonância Magnética) para descobrir se existem causas secundárias que provocam as crises epilépticas, como edemas, tumores, acidente vascular cerebral ou infecções; e EEG – Eletroencefalograma (com 3 fases: de vigília, sonolência e sono) ou vídeo-EEG - videoeletroencefalograma, que ajudam a identificar a localização do foco epilético no cérebro e qual é seu padrão de irradiação. Em alguns casos, o médico também poderá pedir a realização de exames genéticos.
Identificar o tipo de manifestação da crise epiléptica é fundamental para definir o melhor tratamento.
Novidades
Medicamentos à base de CBD - Canabidiol - uma substância extraída da maconha (plantas do gênero Cannabis) - são os mais recentes aliados no tratamento da epilepsia, com bons resultados atestados por pesquisas científicas. Obtidos a partir de manipulação laboratorial, esses remédios são livres de THC (tetrahidrocanabinol), o que significa que não têm efeitos psicoativos e seu uso medicinal é completamente seguro em adultos e crianças.
Além disso, novos anticonvulsivantes já lançados nos Estados Unidos devem chegar em breve ao mercado brasileiro. Alguns pertencem a novas classes de medicamentos, mas a maioria são novas formulações de remédios já existentes, porém mais potentes e com menos efeitos colaterais.
FONTE:
Types of Seizures https://www.epilepsy.com/what-is-epilepsy/seizure-types
Eletroencefalograma e epilepsia: entenda como o exame ajuda no diagnóstico
Electroencephalography (EEG): An Introductory Text and Atlas of Normal and Abnormal Findings in Adults, Children, and Infants
Hospital Albert Einstein - Glossário de Saúde - Epilepsia
Beneficência Portuguesa de São Paulo
LBE - Liga Brasileira de Epilepsia
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