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Diferença entre uma crise epiléptica e uma crise psicogênica

A crise não epiléptica psicogênica - CNEP - consiste em um diagnóstico operacional que, do ponto de vista neurológico, exclui o diagnóstico de crise epiléptica. Mais precisamente, as CNEPs são definidas como crises, ataques ou acessos recorrentes que podem ser confundidos com epilepsia devido à semelhança das manifestações comportamentais, mas que dela diferem por não serem consequentes de descargas elétricas cerebrais anormais. Do ponto de vista psiquiátrico, a presença de um padrão constante de CNEP pode conduzir aos diagnósticos de transtorno conversivo e de transtorno de somatização, conforme classificação do Diagnostic and statistical manual of mental disorders, 4ª ed. (DSM-IV). Na Classificação internacional das doenças, 10ª versão (CID-10), as CNEPs são incluídas na categoria dos transtornos dissociativos (ou conversivos), mais especificamente das convulsões dissociativas.


Embora a expressão crise não epiléptica psicogênica - CNEP - seja de uso recente, diz respeito a um fenômeno bastante conhecido no meio médico, relatado, segundo vários autores, desde tempos remotos na história da medicina. A CNEP também é denominada crise pseudoepiléptica, crise conversiva ou crise histeroepiléptica. Sem levar em conta as diferentes origens e designações dos termos, estima-se que a CNEP apresente cerca de 15 sinônimos na língua inglesa.


A partir da década de 1980, o diagnóstico de CNEP passou a contar com a monitorização pelo vídeo-EEG, o que foi considerado o 'padrão ouro' em termos de diagnóstico. Entretanto, na maioria das vezes há grande dificuldade na abordagem desses casos, no que diz respeito tanto aos diagnósticos neurológico e psiquiátrico quanto ao tratamento em si. As especificidades de diagnóstico e tratamento exigem, do ponto de vista psiquiátrico, conhecimentos sobre fenômenos conversivos e dissociativos, negligenciados pela neurologia e pela própria psiquiatria contemporânea. Do ponto de vista neurológico, esse diagnóstico exige conhecimentos sobre a epilepsia que, em geral, os médicos psiquiatras não possuem.


Crises não epilépticas psicogênicas, abuso e trauma: década de 1990


Uma mudança relevante observada na década de 1990 foi a emergência frequente na literatura da associação entre diagnósticos de CNEP e histórias de abuso nas biografias dos pacientes.


Na década passam também a ser mencionados os diagnósticos de transtorno do estresse pós-traumático - TEPT - e os transtornos dissociativos. Essas associações merecem ser discutidas, uma vez que, conforme apontam alguns estudos, a relação entre as crises não epilépticas psicogênicas e qualquer evento de natureza sexual não fora mencionada até então nos artigos médicos. Somente a partir desse momento se verifica uma proliferação de artigos nessa direção.


Para além dos efeitos sobre o desenvolvimento das crianças e adolescentes, o abuso é um conceito que interage com a comunidade científica, a mídia e a sociedade. A partir da década de 1980, tal conceito foi-se constituindo como a pedra angular de um distúrbio mental que passou a ter proporções epidêmicas nos EUA: o distúrbio de múltipla personalidade, objeto de um número significativo de pesquisas, artigos médicos, seminários e menções na mídia.


A partir da década de 1990 verifica-se igualmente uma retomada de interesse pela dissociação, no contexto das CNEPs. A dissociação permaneceu silenciosa até a década de 1980, com o surgimento, no DSM-III, do transtorno de múltiplas personalidades e de estresse pós-traumático.


Há outra via para compreender e lidar com as CNEPs?


A experiência prática com o atendimento psiquiátrico de pacientes com diagnóstico de CNEP, ao mesmo tempo que exemplifica os paradoxos na história de seu conceito, aponta alternativas de desenvolvimento para o manejo do quadro pela psiquiatria contemporânea. Propõe-se, nesse sentido, o cotejamento da discussão histórico-conceitual aqui realizada com a discussão de uma abordagem que o Projeto Epilepsia e Psiquiatria (PROJEPSI) vem desenvolvendo na atenção a pacientes com quadro de CNEP, no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Para a leitura de relato de casos e do artigo completo, acesse aqui: Crise não epiléptica psicogênica: história e crítica de um conceito, 2011.


FONTE: SciELO - Scientific Eletronic Library Online





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