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A ESCOLA E O ALUNO COM TEA LEVE, COMO AJUDÁ-LO?

Em 2013, com a publicação da nova versão do DSM-5 - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, houve a fusão do Transtorno Autista, Transtorno de Asperger e Transtorno Global do Desenvolvimento no Transtorno do Espectro Autista – TEA. Os sintomas desses transtornos representam um continuum único de prejuízos com intensidades que vão de leve a grave nos domínios de comunicação social e de comportamentos restritivos e repetitivos em vez de constituir transtornos distintos. Essa mudança foi implementada para melhorar a sensibilidade e a especificidade dos critérios para o diagnóstico de TEA e para identificar alvos mais focados de tratamento para os prejuízos específicos observados.


TEA leve, antiga SÍNDROME DE ASPERGER


Em 1944, o psiquiatra austríaco Hans Asperger publicou um trabalho intitulado "psicopatia autista", em que descrevia um grupo de adolescentes que apresentava comportamento social ingênuo e peculiar. Faltava a esses indivíduos o conhecimento intuitivo de como adaptar suas respostas às necessidades e personalidades dos outros. Na descrição de Asperger, essa psicopatia afetava, primordialmente, os homens e só podia ser identificada após os três anos de idade. Além dos prejuízos na interação social, Asperger revelou que essa população evidenciava problemas de comunicação e inflexibilidade comportamental.


Diferentemente do autismo clássico, TEA leve não apresenta comprometimento intelectual e retardo cognitivo, ao contrário disso, muitas vezes possuem inteligência acima da média. Por isso, os primeiros sinais e sintomas do transtorno costumam ser ignorados pelos pais, que os atribuem a características da personalidade da criança.


Em sala de aula, essa criança frequentemente está distraída, ocupada com os seus pensamentos; pode ser desorganizada e pode apresentar dificuldades para concentrar-se nas atividades da classe, mas não necessariamente tem dificuldade de aprendizagem, já que pode ter o QI elevado.


Por conta da dificuldade de concentração, é importante que as tarefas acadêmicas sejam divididas, as questões precisam ser sintetizadas e o professor deve reorientar sempre que for necessário. Quando os conceitos vivenciados em sala de aula forem abstratos, é interessante que se proporcionem explicações adicionais ou tente simplificá-los. É importante que haja um Programa Educativo Individualizado.


COMO RECONHECER E AJUDAR SEU ALUNO COM TEA LEVE


Início do semestre - O contexto não familiar, as disciplinas novas, colegas e professores desconhecidos causam, de um modo geral, certa ansiedade. É relevante que o professor inclua na ementa/programa das disciplinas um quadro, especificando o local dos encontros, cronograma de aulas, os trabalhos a serem realizados, assim como o que espera que cada aluno aprenda (competências). Considerando que o estudante com TEA, muitas vezes, apresenta dificuldades com mudança de rotina, é recomendado que o docente avise, o mais prontamente possível, sobre mudanças no programa.


Trabalhos escritos - Problemas de coordenação motora fina e organização de ideias poderão causar sérias dificuldades ao aluno com TEA na realização de trabalhos e provas escritas. Softwares de predição de palavras e ferramentas de organização da escrita, como mapas conceituais, podem ser fundamentais para a produção de textos.


Isolamento social e participações em grupos - Ao perceber a dificuldade do aluno com TEA de interagir socialmente, é recomendável que o docente defina, previamente, os grupos de trabalho ao invés de aguardar que os alunos se agrupem. São, em geral, recomendados grupos pequenos, não excedendo a quatro membros.


Testes e avaliações - O hiperfoco em determinadas áreas acadêmicas podem fazer com que o estudante deixe outras disciplinas em segundo plano. O professor poderá solicitar trabalhos em que o tema de interesse do aluno esteja vinculado ao conteúdo trabalhado, de modo a complementar a avaliação.


Atraso na entrega de trabalhos - a ansiedade e dificuldades nas funções executivas (planejar, priorizar, selecionar) podem prejudicar a realização de tarefas e cumprimento de prazos. Por esse motivo, alguns jovens conseguem ingressar no ensino superior, mas abandonam a universidade em seguida. O professor deverá orientar o aluno a manter uma agenda onde constem datas de entrega de trabalhos e observações importantes como "não entendi o que o professor pediu, preciso perguntar novamente".


Aulas expositivas - É sempre importante salientar que muitos desses estudantes são pensadores visuais que melhor processam informações gráficas do que auditivas. Assim, o uso de recursos visuais, como a escrita no quadro, plataformas interativas, fichamento de aulas e mapas conceituais, podem ser essenciais no processo de aprendizagem.


Apresentação de trabalhos - sob ansiedade e tensão o aluno pode transpirar mais do que o normal e fazer movimentos corporais estranhos (balançar o corpo de um lado para outro ou contorcer as mãos). O professor ou um colega poderão apoiar o aluno, fornecendo instruções claras de conduta. Assim, podem dizer "está tudo bem, leia o texto (ou a tela)". Após a apresentação, é relevante ressaltar os pontos positivos do trabalho, como "gostei quando você falou...".


Vocabulário "pedante" ou incomum - o uso de palavras incomuns distancia o estudante dos demais. Conversar com o aluno com TEA, elogiar seu vocabulário e sugerir o uso do dicionário para escolher sinônimos adotados em sua região/grupo social pode ajudar.


Dificuldade em iniciar e manter uma conversação - a conversação flui melhor se o assunto girar em torno dos temas de seu interesse. De um modo geral, o aluno com TEA tenta iniciar uma conversa com uma pergunta cuja resposta já conhece. Ao receber essa resposta, encerra abruptamente a conversa por, muitas vezes, não saber o que dizer em seguida. O professor ou colega podem, então, fazer uma pergunta mais diretiva (você fez o trabalho de mecânica?) para manter a interação.


Compreensão literal - considerando o pensamento concreto e as dificuldades em compreender a linguagem não literal, o professor deverá ser cuidadoso ao usar figuras de linguagem. Assim, ao invés de dizer "o trabalho poderá ser entregue em um século", ressaltando o extenso tempo para a sua realização, é aconselhável que determine o prazo, especificando o dia de entrega das tarefas.


Situações de conflitos - a dificuldade em colocar-se no lugar do outro pode levar o aluno com TEA a não entender pontos de vista alheios, que, junto à rigidez de pensamento, resulta em comportamento inflexível e incapacidade de negociar soluções de conflitos. O professor e colegas podem promover meios para o estudante expor suas ideias, sem entrar em "luta de força". Se possível, ter um monitor ou um adulto de referência para que possa ter uma relação de confiança para apoiá-lo, especialmente no local do recreio, momento em que ficam mais evidentes as diferenças nas formas de se relacionar.


Bullying - a dificuldade de socialização, a ingenuidade nas relações, a dificuldade para o entendimento do sentido figurado, além de outras características do autismo propiciam os abusos nas relações. É importante que professor e colegas estejam atentos a possíveis situações de provocação, pois o próprio aluno pode não perceber que está sendo vítima.


Sensibilidade sensorial - Sons (barulho do ar condicionado e das pessoas falando em voz alta) podem causar ansiedade e irritação. O piscar da luz fluorescente pode ser imperceptível para a maioria das pessoas, mas muito perturbador para as pessoas com TEA. Ao perceber o incômodo do aluno (inquietação, tapar os ouvidos, expressão facial tensa), o professor pode pedir silêncio à turma, diminuir a incidência de luz ou, ainda, perguntar se o aluno gostaria de sair da sala por alguns minutos. Se possível, substituir o som estridente da sirene do recreio para uma música ou um trecho de uma música.


Espaço e tempo individualizado - Apesar de tudo o que foi dito, às vezes o estudante precisa de um descanso diante de tanta demanda social, como aqueles momentos de ficar vagando, falando consigo mesmo, cantando suas canções, lendo o livro sobre seu assunto de interesse ou procurando insetos no pátio pode ser o mais relaxante que podemos oferecer ao aluno e, talvez seja o que ele mais precisa. O professor ou monitor permitir que haja o espaço e tempo do aluno, assim como palestras e incentivos à diversidade, o que é diferente deve ser respeitado, que haja a promoção da criatividade e da inovação.


FONTES:

American Psychiatric Association (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento et al.; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli et al. – 5. ed. Porto Alegre: Artmed.


Síndrome Asperger: guía para la intervención en el ambito escolar (2015)


UNIFESO (2016) - Acessibilidades & Dicas Pedagógicas https://www.unifeso.edu.br/editora/pdf/nappa1.pdf

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